NÃO DESISTIR DE IR
Por muito tempo chamei de preguiça aquilo que, na verdade, era cansaço da mente. Hoje sei: era ansiedade mental. Um excesso de pensamentos, de antecipações, de cobranças silenciosas que não fazem barulho fora, mas fazem desordem por dentro.
A ansiedade mental não grita. Ela sussurra. Ela vai dizendo que ainda não é a hora, que falta algo, que é melhor esperar mais um pouco. Enquanto isso, os dias passam e a sensação de estagnação pesa. Não porque não exista vontade — mas porque a mente está cheia demais para o corpo avançar.
Procrastinar, nesse lugar, não é desleixo. É um mecanismo de defesa. É o corpo freando para não se perder num turbilhão de exigências internas. É quando o pensamento corre mais rápido do que a ação consegue acompanhar.
E então vem a autocobrança. Vem a repreensão. Vem aquele diálogo duro: “mais um dia que nada prosperei”. Mas prosperar nem sempre é fazer grandes movimentos. Às vezes, prosperar é apenas não desistir de si.
Hoje compreendo algo essencial: a vontade não abre caminhos sozinha — é a ação que faz isso. E ação não precisa nascer grande. Ela pode nascer pequena. Quase imperceptível. Mas verdadeira.
E foi isso que fiz: dei um passo. Um passo pequeno. Um passo humilde. Um passo possível. Esse passo já está dentro dos meus planos. Já está agendado. Não é mais apenas um desejo solto no pensamento — ele ganhou data. Agora falta apenas comparecer no dia marcado. E isso, por si só, já é uma vitória silenciosa.
Não me cobro mais o salto. Me respeito no passo.
Porque para quem vive sob ansiedade mental, levantar já é coragem. Decidir já é avanço. Agendar já é compromisso com a própria vida. E comparecer será, quando chegar o dia, um gesto de reconciliação comigo mesma.
Às vezes não é sobre mudar tudo.
É sobre não desistir de ir.


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