O Peso de Ser Intensa em um Mundo Raso
Sou estranha, eu sei. Desconfiada, quieta, dessas que observam mais do que falam. Não é fácil conviver comigo — nem para os outros, nem para mim. Porque, ao mesmo tempo em que sou silêncio, também sou excesso. Há dias em que as palavras dormem. Em outros, elas acordam todas de uma vez e querem correr soltas.
Não me afasto por falta de afeto. Pelo contrário. Às vezes me reservo porque sinto demais. Porque tem sentimentos que pesam, que pedem cuidado, que não cabem em qualquer lugar. E então eu me recolho. Não por desprezo, mas por proteção emocional. Nem todo mundo entende isso. Nem todo mundo respeita esse tempo interno que a gente precisa para continuar sendo inteiro.
Nunca me achei extraordinária. Não tenho talentos que brilham em vitrines, nem histórias que disputam aplauso. Sou comum. E talvez seja justamente isso que mais exige de mim: aceitar a própria simplicidade num mundo que cobra espetáculo. Ainda assim, faço questão de algo essencial — respeito. Gosto de ser tratada bem porque é assim que trato. E isso, para mim, ainda é um valor imenso.
Não sou de construir afetos com facilidade. Tenho medo das promessas que se escondem nos vínculos. Medo das ausências futuras, das expectativas que não se cumprem, das entregas que não encontram permanência. Mas há dias… há dias em que o peito fica cheio. Cheio de vontade de cuidar, de ouvir, de abraçar, de doar. Um afeto quase transbordando, sem destino certo, só pedindo para existir.
Coisa estranha essa de ser assim. Um dia muro, no outro ponte. Um dia deserto, no outro jardim em flor. Sou feita dessas distâncias e dessas entregas repentinas. De silêncios protegidos e de vontades que explodem feito primavera fora de época.
Estranha? Talvez.
Mas verdadeira.
E, no fundo, é isso que me basta.

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