O tempo. Traz você para mim.


A juventude é um território encantado.

Nela caminhamos como deuses distraídos, acreditando que nada pode nos tocar.

O mundo parece nascer de nossas próprias mãos — tão seguras, tão cheias de amanhã.

Mas um dia descobrimos que há coisas que não seguramos…

O que é leve demais escapa.

O que é raro demais some.

O que é nosso por instantes se desfaz no ar,

como fumaça obedecendo ao vento.

Então passamos a vida procurando o que se perdeu

um sentimento, um brilho, um nome, um olhar.

Rondamos esquinas, memórias, silêncios,

como quem tenta reencontrar uma estrela que caiu do céu.

E, para não doer tanto, inventamos presenças.

Criamos pessoas dentro de nós,

modeladas pela saudade,

pelo desejo,

pela falta.

Pálidas versões de algo que já foi vivo.

Hoje me pergunto, com a serenidade de quem já conhece o peso das horas:

será que um dia te encontro de novo?

Ou eras apenas um sopro que o destino deixou passar por mim?

Ainda assim, deixo meu pedido ao infinito:

tempo… se souber o caminho, traz você para mim.

E se um dia você realmente voltar,

quero que saiba: não espero perfeição.

Espero verdade.

Espero o silêncio confortável,

o olhar que reconhece,

o abraço que não estranha.

Guardei um espaço para você —

não como quem guarda um vazio,

mas como quem reserva um lugar para o inesperado.

Porque talvez o amor seja isso:

um retorno que não avisou,

um gesto que não esquecemos,

um nome que o coração nunca desaprendeu a pronunciar.

E assim continuo,

entre a memória e o desejo,

sussurrando ao universo:

se houver um caminho… que ele te traga até mim.


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